O BEIJO QUE NUNCA ACONTECEU
O frio iniciava seus primeiros passos com o fim do outono, quando resolvemos sair naquela noite. Desci com você até a garagem no subsolo e, um grande morcego pairou sobre nossas cabeças exatamente quando nossos olhos se cruzaram de um jeito que durante muito anos evitamos. Meu coração disparou e uma certa inquietação tomou conta do meu corpo. Não soube como agir porque você é grande conhecedor de mim e, eu sabia então que era impossível me esconder.
Nesse instante seu olhar insistiu em me procurar e eu tentava em vão fingir não notar. Inexplicavelmente você ousou perguntar se eu estava com medo de você. Confesso que menti quando respondi "Por que estaria com medo de você?". A resposta correta seria que na verdade temi imensamente por mim. Sabia que se você me pegasse nos braços jamais resistiria e seria obrigada a confessar para mim mesma o quanto me importava a sua presença.
Você hesitou por um breve instante que me pareceu durar bem mais que a real dimensão do tempo. Rimos de nós mesmos e culpamos a criatura da noite que havia nos assustado. Então, tudo voltou ao normal! Dois grandes confidentes incapazes de confessar o impensável. Silenciamos para sempre as palavras que deveriam ter sido ditas naquela noite. Nunca mais falamos no assunto e seguimos nossas vidas como antes.
Hoje confesso que me pego, às vezes, pensando em como teria sido o beijo. Seria suave o toque de seus lábios explodindo numa emoção há tanto sufocada? Teria seu corpo quente conseguido aquecer todo o frio da minha alma? O momento seria fugaz ou se perpetuaria por toda a eternidade?
Agora, essas perguntas permanecerão sem resposta. Afinal, nosso beijo nunca aconteceu.
Por: Rosivar Marra Leite
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